Com risco de excesso de carne no mercado interno, setor busca novos destinos como Chile e Egito; governo tenta negociar com os estadunidenses
Com risco de excesso de carne no mercado interno, setor busca novos destinos como Chile e Egito; governo tenta negociar com os estadunidenses
A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levou frigoríficos de Mato Grosso do Sul a suspenderem as exportações de carne bovina para o mercado norte-americano. A medida entra em vigor em 1º de agosto e, diante da urgência do cenário, empresas como JBS, Minerva e Naturafrig já interromperam a produção destinada ao país.
A decisão gerou impactos imediatos. O Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems) confirmou que parte da produção já finalizada precisará ser redirecionada a outros mercados. Segundo o vice-presidente da entidade, Alberto Sérgio Capuci, a tarifa inviabiliza a competitividade dos produtos sul-mato-grossenses nos Estados Unidos, principal destino das exportações até então.
De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, o redirecionamento da carne a outros países é uma alternativa em estudo, mas que exige planejamento e competitividade de preços. Chile e Egito estão entre os mercados potenciais em análise. Enquanto as soluções não se concretizam, há risco de excesso de oferta no mercado interno, o que pode levar à queda de preços.
“O que a gente verifica é que podemos ter um excesso de oferta no mercado interno no curto prazo, tendo uma redução de preços na ponta e, consequentemente, uma redução ao produtor. É extremamente complexo esse momento”, destacou Verruck.
A preocupação se estende a toda a cadeia produtiva. O secretário afirmou que já há diálogo com o governo federal para tentar postergar a aplicação da tarifa e abrir espaço para negociações diplomáticas. “O 1º de agosto está muito próximo. Precisamos ganhar tempo. Além da carne, há impactos também em outros setores como açúcar, florestas e celulose, mas o impacto mais imediato recai sobre a carne bovina”, alertou.
Segundo dados da Semadesc, Mato Grosso do Sul responde por 7,3% das exportações nacionais de carne bovina. Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior destino da carne sul-mato-grossense, com 18,42% do total exportado — o equivalente a US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas. A China liderou com 24,18% (US$ 309 milhões e 66 mil toneladas).
Os números mantiveram-se estáveis no primeiro semestre de 2025, com os EUA ainda como segundo maior comprador: US$ 235,5 milhões em receita e 49,6 mil toneladas exportadas, representando 9,21% do valor total e 8,78% do volume físico. A China segue à frente, com US$ 309 milhões (12,09%) e 66 mil toneladas (11,71%).
Diante da dificuldade de acessar novos mercados em curto prazo, o governo estadual também avalia expandir a distribuição da carne no mercado interno, aumentando a oferta em Mato Grosso do Sul e em outras regiões brasileiras. O economista Aldo Barrigosse destaca que 70% da produção de carne bovina do estado já é destinada ao mercado nacional, e ainda há espaço para ampliação do consumo. “Os cortes enviados ao exterior são diferentes dos consumidos internamente. A indústria busca rentabilidade, mas a tendência agora é uma redução de preços”, analisou.
Embora o cenário seja desafiador, autoridades estaduais, lideranças do setor e representantes da indústria buscam soluções para mitigar os efeitos econômicos da nova tarifa. O governador Eduardo Riedel classificou a medida como um equívoco estratégico e defendeu o diálogo diplomático como caminho para superar a crise. A Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) também se posicionou contrária à medida, alertando que ela compromete a competitividade da indústria estadual.
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