Crise de financiamento ameaça décadas de avanços e pode causar milhões de novas infecções
Crise de financiamento ameaça décadas de avanços e pode causar milhões de novas infecções
O UNAIDS lançou nesta quinta-feira (10) o Relatório Global sobre a AIDS 2025, que faz um alerta contundente: cortes abruptos e históricos no financiamento internacional podem provocar uma reversão dramática dos avanços conquistados nas últimas décadas no combate ao HIV. O documento, intitulado “AIDS, Crise e o Poder de Transformar”, aponta que, sem mudanças radicais nos programas e no modelo de financiamento, o mundo poderá enfrentar milhões de novas infecções e mortes evitáveis até 2029.
De acordo com o relatório, apesar do aumento no orçamento doméstico de alguns países, os recursos adicionais são insuficientes para compensar a retirada de apoio internacional. O impacto já é visível: interrupção de serviços, demissões em massa de profissionais de saúde e redução drástica no acesso a medicamentos. Em Moçambique, mais de 30 mil trabalhadores da saúde foram afetados. Na Nigéria, o uso da PrEP, medicamento para prevenção do HIV, caiu de 40 mil para 6 mil pessoas por mês.
A expectativa é de que, se os serviços continuarem colapsando, cerca de 6 milhões de novas infecções por HIV e 4 milhões de mortes relacionadas à AIDS possam ocorrer além das previsões, entre 2025 e 2029.
Mesmo antes da crise atual, dados de 2023 indicavam que 9,2 milhões de pessoas ainda estavam sem acesso ao tratamento antirretroviral, sendo 620 mil crianças. Em 2024, 630 mil pessoas morreram de causas relacionadas à AIDS, principalmente na África Subsaariana.
O relatório também denuncia o impacto negativo de leis discriminatórias em países como Uganda e Mali, que criminalizam pessoas LGBTQIA+ e usuários de drogas, dificultando ainda mais o acesso aos serviços de saúde e ampliando a vulnerabilidade das populações-chave.
Apesar do cenário crítico, o documento destaca experiências bem-sucedidas. Sete países africanos alcançaram as metas 95-95-95, e o Brasil se aproxima desse marco, com 96% das pessoas diagnosticadas, 82% em tratamento e 95% com carga viral suprimida. O relatório também cita ações brasileiras inovadoras, como o projeto Trans Amigas e os impactos positivos do Bolsa Família na redução da incidência e mortalidade por HIV.
A diretora do UNAIDS, Winnie Byanyima, defende que ainda há tempo para reverter a crise, desde que haja compromisso político e solidariedade global. “Cada dólar investido salva vidas, fortalece os sistemas de saúde e promove desenvolvimento. O mundo precisa escolher a transformação”, reforça.
O relatório conclui com um apelo urgente à comunidade internacional para recompor os investimentos, remover barreiras legais e sociais e garantir que as comunidades mais vulneráveis liderem as ações de enfrentamento. Segundo o UNAIDS, é possível eliminar a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030 — mas isso exigirá ação imediata e cooperação global.
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